Trabalhar é um exercício de bonsai, nunca de agronegócio

23 de setembro de 2016


palestra_karnal

 

O professor, filósofo e historiador Leandro Karnal retomou as atividades do XIV CONPARH na tarde desta quinta-feira com a palestra intitulada O espelho como metáfora.

Karnal iniciou sua fala abordando o papel do espelho como uma metáfora importante para tratar da vaidade e a necessidade cada vez maior dos indivíduos de tornarem pública sua intimidade e serem elogiados constantemente. “Quando queremos que o mundo nos elogie, transferimos ao outro nossa incerteza e insegurança. Quem precisa da aprovação externa não é apenas vaidoso em si, e sim possui uma séria deficiência narcísica”, disse.

A palavra vaidade deriva de vanitas, que representa vazio. Orgulho, por sua vez, significa conceito exagerado de si. Assim, a vaidade transforma-se em um eixo da existência humana e funciona como uma bolha de ar, visto que torna as pessoas dependentes do espelho do mundo, consequentemente, mais fáceis de serem controladas.

Para Karnal, o fenômeno das selfies representa bem este momento e mostra que talvez seja possível que as pessoas falem tanto de si porque não sabem bem como são, que se fotografem a todo instante porque não querem se ver, que riem a todo instante porque possuem uma tristeza que tem que ser afastada incessantemente. “As selfies se transformaram em uma maneira de mostrar que somos corajosos, que nossa vida vale a pena e é realmente significativa”, explicou, brincando que no futuro tratarão a isso como uma doença típica do século XXI, similar à aracnofobia.

Segundo o palestrante, a vida traz consigo um potencial de vazio muito grande, onde, quanto mais liberdade, maior é a angústia do ser humano. “Quanto mais vontade, maior a insatisfação; quanto mais eu desejo, menos satisfeito estou. É preciso pensar no que se busca de verdade, porque atrás desta verdade de sentir coisas existe muito medo, dor e egoísmo”.

Dentro deste contexto, Karnal comentou que não existe um líder que possa ter um perfil muito vaidoso, visto que pessoas inseguras e vaidosas são profundamente entregues à sua própria solidão, incapazes de coordenar um grupo e estarem atentas às suas necessidades. “Quem entra em uma jornada de vaidade e poder fica frágil, perde a chance de aperfeiçoamento. A vaidade é um local morno, quentinho, simpático, onde eu facilmente me acomodo. E aqui vale a lei da física de entropia, que diz que tudo que não recebe energia, perde. Sempre que alguém não está aprendendo, está sendo esquecido”.

Para ele, o antídoto seria a consciência da essência individual, do que somos e o que queremos para nossas vidas. “A filosofia insiste neste ponto, ‘conhece-te a ti mesmo’. É preciso ter uma ideia clara de quem somos e de onde queremos chegar. Ao invés de tantas selfies, façam uma selfie de si, de verdade, fotografem-se para que tenham a noção da construção de si”, recomendou. “Todos estamos em construção, somos um projeto, uma ideia de transformação. Assim como nós, nenhuma empresa está terminada, ela deve ser construída metodicamente. E a chave da transformação é a resiliência, porque trabalhar é um meticuloso exercício de bonsai, nunca de agronegócio”, encerrou.

O evento é realizado pela ABRH-PR no Expounimed.

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