O último Bom Dia RH de 2025 foi realizado na Fiep e reuniu profissionais de Recursos Humanos para discutir um tema que atravessa culturas organizacionais e estratégias de negócios: a remuneração. Em clima de encerramento de ciclo, o evento também marcou o lançamento do livro “Remuneração Descomplicada”, assinado por Raul Zanon da Rocha Netto e Augusto Rompkowski, obra que nasce de anos de consultoria e de uma inquietação comum às empresas: por que insistimos em tornar difícil o que pode ser simples?

A vice-presidente da ABRH-PR, Vera Mattos, abriu o evento destacando a importância do diálogo constante sobre temas que impactam diretamente pessoas e organizações. “Este é o último Bom Dia do ano, e celebramos um período produtivo e desafiador. Acreditamos que nossa missão é compartilhar conhecimento, somar esforços e capitalizar talentos para contribuir com as mudanças que desejamos não só nas empresas, mas no mundo”, afirmou. Ela lembrou que, já em janeiro, a entidade inicia o planejamento estratégico para 2026, com a proposta de ampliar a agenda de eventos e aprofundar discussões.

Simplificar tudo

Conduzido por Jaqueline Becker, psicóloga e diretora do PSH Prêmio Ser Humano da ABRH-PR, o bate-papo com Raul Zanon apresentou a essência do livro recém-lançado: transformar a remuneração e a gestão em algo compreensível, prático e aplicável. “Percebemos que muitas soluções em remuneração eram complicadas demais. Então decidimos simplificar tudo: metodologia, comunicação e até o estilo de vida. Descomplicar virou um modo de pensar”.

A filosofia da obra parte do entendimento: processos precisam refletir a realidade. Um exemplo clássico, segundo Zanon, é o perfil de cargo, frequentemente desatualizado, subestimado e distante do que realmente acontece no dia a dia. “O perfil de cargo é estratégico, mas quase sempre está desconectado. Ele é o fio da meada de qualquer processo, da auditoria ao desenvolvimento. Quando o atualizamos com base nos processos reais, criamos precisão e eliminamos ruído”.

Zanon trabalha com definições claras de papéis, responsabilidades e complexidades, permitindo que empresas revisem suas práticas com objetividade. Em apenas três dias de workshop, é possível redesenhar cargos, eliminar tarefas que geram desperdício e organizar planos de carreira. Para ele, essa clareza evita distorções comuns, como promover colaboradores sem que seus processos mudem. “Se o processo é o mesmo, não faz sentido transformar um assistente em analista. Isso cria problemas no futuro e desorganiza toda a estrutura”, completou.

Conceito a ser explorado

Ao abordar riscos e oportunidades da remuneração, Zanon reconhece que o sistema legislativo brasileiro traz complexidade, mas ressalta que simplificar é possível, desde que respeitando o contexto de cada organização. “A remuneração descomplicada é um conceito a ser explorado. Algumas empresas já nasceram simples e absorvem bem o método; outras são complexas por natureza. O importante é encontrar o caminho praticável para cada realidade”.

O especialista também comentou os erros mais comuns cometidos nas políticas de remuneração, especialmente em tempos de mercado aquecido e competição por talentos. Entre eles, a crença de que a remuneração precisa ser complicada e o descumprimento das próprias regras. Ele compara essa incoerência ao trânsito: há espaço para exceções, mas não para que cada caso vire prioridade. Para Zanon, é impossível agradar a todos, e tentar fazê-lo abre portas para injustiças e desgastes desnecessários.

Sobre transparência, o consultor defende que documentos como perfis de cargos, estruturas de carreira e políticas devem ser acessíveis aos colaboradores. A exceção é a tabela salarial, que fica sob gestão do RH. O ponto central, afirma, não é o sigilo, mas a maturidade da liderança e da cultura organizacional para lidar com a informação. Perfis de cargo dinâmicos, por exemplo, ajudam a alinhar expectativas e orientar o desenvolvimento profissional.

Responsabilidades

Na discussão sobre atração e retenção de talentos, Zanon destacou que a remuneração fixa continua sendo o pilar estrutural, enquanto o variável se fortalece como mecanismo estratégico, desde que transparente e facilmente compreendido. Benefícios também ganham protagonismo, especialmente diante da convivência de múltiplas gerações nas organizações. Mas nenhum tema provoca tanta polêmica quanto o home office. “A empresa, agora, precisa se moldar ao colaborador”, afirmou, explicando que fatores intangíveis e emocionais pesam mais do que antes na permanência dos profissionais.

O método de remuneração descomplicada também exige um diagnóstico preciso das responsabilidades e rotinas existentes. A matriz de responsabilidades cumpre esse papel, revelando práticas ocultas, processos manuais e funções difusas, elementos que precisam ser organizados antes de qualquer revisão salarial. O livro acompanha um sistema e utiliza recursos gráficos e personagens (Jonas e Clara) para tornar a aplicação mais didática, inspirado em referências de literatura técnica que combinam método e narrativa.

Com o auditório lotado e uma pauta que toca diretamente os desafios cotidianos das organizações, o Bom Dia RH encerrou o ano ampliando o debate sobre remuneração, cultura e gestão. A mensagem final, reforçada por Zanon, sintetiza o espírito do livro e do encontro: “Descomplicar não é reduzir a importância das coisas. É torná-las possíveis”.

Soluções

Além do conteúdo apresentado, o encontro reforçou a importância das conexões institucionais para fortalecer o ecossistema de RH e inovação no Paraná. Simone Parnes, gerente de relacionamento do IEL, ressaltou a relevância desta parceria. “A conexão entre ABRH-PR e o Sistema Fiep é muito rica para todos nós. Em 2026, esperamos que esses projetos sigam próximos. Estamos à disposição para desenvolver soluções junto às indústrias”, afirmou. Ela destacou ainda o papel do IEL em aproximar talentos das empresas e impulsionar a competitividade por meio de inovação, desenvolvimento de carreiras e foco humano.