O poder da comunicação e do jornalismo na investigação criminal

13 de março de 2019


O jornalismo investigativo e sua relação com os crimes financeiros norteou a mesa redonda composta pelos jornalistas Kátia Brembatti (Gazeta do Povo), Fábio Serapião (O Estado de S. Paulo) e Rubens Valente (Folha de São Paulo), na manhã desta quarta-feira do 1° Fórum Nacional sobre Crimes Econômico-Financeiros.

“Existem dois pontos fundamentais do jornalismo investigativo, que é a busca pela verdade e a necessidade de juntar casos da realidade e estabelecer uma relação entre eles”, iniciou o mediador da mesa, perito criminal José Viana Amorim.

Vencedora de diversos prêmios pela série Diários Secretos, que revelou um esquema bilionário de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), Kátia Brembatti recordou que o trabalho realizado neste caso pode ser denominado como jornalismo investigativo na origem, pois demandou a criação de documentos e banco de dados do zero: foram analisados dez mil documentos físicos, digitados em uma planilha do Excel, posteriormente digitalizados, em um processo totalmente manual. Ela lembrou que há dez anos, ainda não existia a Lei da Transparência, o que permitia que os dados do Diário Oficial da ALEP não estivessem dispostos na internet.

“A investigação foi importante porque, até então, só se mostravam casos isolados. Com ela, evidenciamos que a questão era institucionalizada e atingia todos os gabinetes, em um sistema altamente viciado”, disse.

Hoje, ela acredita que a imprensa vive em outro extremo, com um volume imenso de informações disponíveis. Ainda assim, é preciso saber onde procurar, como procurar e com quem procurar estes dados. Segundo Kátia, existe atualmente uma tendência chamada de jornalismo de dados. Antes, contava apenas o faro jornalístico e boas fontes. “Agora, vemos a figura do ‘jornalista de computador’, que não tem contato com ninguém, apenas faz uma raspagem de dados e consegue fazer o trabalho de casa. Ainda assim, acredito que a relação com a fonte se mantém primordial, pois dependemos do conhecimento qualificado, técnico e da credibilidade de nossas fontes”, resumiu.

Para o jornalista Fábio Serapião, a Operação Lava Jato representa um divisor de águas na investigação e divulgação da imprensa nacional. Ele, que atua na editoria de Polícia Federal do veículo, relembrou que antes a atuação do jornalista dependia da sua relação com as fontes, entre delegados, procuradores e juízes. “A Lava Jato mudou a chave a partir da transparência das informações permitida por seus atores”, disse. “Acredito muito na importância do profissional da imprensa em se comunicar, mostrar que não é inimigo de ninguém. Somos intermediários da notícia, com a missão de coletar a informação da fonte primária, tratá-la de forma adequada e expor para população. É fundamental que delegados, procuradores, peritos e juízes tenham essa atenção e saibam que a mídia é uma parceira de seu trabalho e da sociedade”, encerrou.

Autor do livro “Operação Banqueiro” – que relata os bastidores da Operação Satiagraha e explica detalhes sobre a prisão do banqueiro Daniel Dantas –, o jornalista Rubens Valente iniciou sua participação no Fórum frisando que, em seus 30 anos de carreira, nunca vivenciou um ataque tão sistemático à imprensa. “Por isso, abrir espaço em um evento deste nível para a discussão com a imprensa é fundamental para valorizar nossa atividade”, comentou.

Também para ele, mesmo com o avanço da tecnologia e o consequente poder das redes sociais, o contato com a fonte ainda é determinante na realização de uma boa matéria, pois é ela quem vai indicar um caminho, mostrar a visão e filtrar as informações erradas. “Contamos com mecanismos de controle em nosso trabalho, pois submetemos a matéria a um checador, ao crivo do editor, ao olhar do ombudsman e até mesmo à concorrência, que ataca quando divulgamos algo errôneo, por isso temos que realizar nosso trabalho com extremo zelo”, concluiu. O Fórum seguirá até o dia 14/03 no pequeno auditório da Universidade Positivo.

Organização: MarkMesse

Por Daniela Licht (Básica Comunicações)

Fotos Enéas Gomez

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