A felicidade não é apenas um sentimento passageiro. É coisa séria e pode – e deve – ser aprendida. Essa foi a principal provocação de Henrique Bueno, mestre em Psicologia Positiva e referência mundial em Felicidade Corporativa, durante a palestra promovida pela ABRH-PR na manhã do dia 22/05. O encontro fez parte de mais uma edição do tradicional evento Bom Dia RH, voltado a lideranças e profissionais da área de Recursos Humanos.
Logo na abertura, o presidente da ABRH-PR, Gilmar de Andrade, destacou a importância do tema. “Talvez essa busca pela felicidade não seja algo novo, mas, depois da pandemia, ela ganhou outro significado. Nosso compromisso é com o ser humano no centro das estratégias”, afirmou. Ele também anunciou o XVIII CONPARH, congresso promovido pela entidade, com foco no desenvolvimento humano e transformação organizacional.
Viver com propósito
Henrique abriu sua fala com uma lembrança marcante: o momento em que seu professor, Tal Ben-Shahar, olhou nos seus olhos e perguntou, de forma genuína: “Como você está? Mesmo?”. Para ele, esse pequeno gesto ensina o que líderes e profissionais precisam praticar: atenção verdadeira.
“A forma como perguntamos e ouvimos transforma relações – em casa, no trabalho, na vida”, afirmou. Segundo Henrique, a felicidade está muito mais nas conexões humanas do que nos bens materiais. “A felicidade se aprende. E ela começa no simples: ouvir com atenção, estar com o outro, viver com propósito”.
Dinheiro e felicidade
Desmistificando conceitos, Henrique explicou que, embora o dinheiro tenha papel importante em garantir dignidade, ele não gera felicidade sustentável. “Temos um ‘baseline’ de bem-estar. Podemos nos alegrar com um aumento, mas logo retornamos ao nosso nível habitual de felicidade”. Segundo ele, a verdadeira felicidade está no significado, nos relacionamentos e nas experiências vividas com presença e intencionalidade.
“Existe um mito de que a felicidade acontece quando tudo está perfeito. Isso não existe”, disse o especialista. Para ele, felicidade é ter recursos emocionais para lidar com os altos e baixos da vida. “É entender que meu cérebro às vezes me sabota, mas eu posso treinar comportamentos mais saudáveis e positivos”.
Citando a pesquisadora Sonja Lyubomirsky, Henrique explicou que felicidade envolve emoções positivas e a percepção de que a vida tem sentido e propósito. “É possível estar em luto e, ainda assim, se sentir uma pessoa feliz. Porque felicidade também é sobre ressignificar experiências”.
Felicidade nas organizações
A conexão entre bem-estar e performance nas empresas também foi destaque. Segundo Henrique, organizações com colaboradores felizes são 31% mais produtivas, 22% mais rentáveis, 300% mais inovadoras e registram 51% menos turnover. “Mas talvez o impacto mais grave não seja financeiro. É humano: pessoas que voltam para casa exaustas e emocionalmente ausentes”. Ele reforçou que o foco do RH precisa ir além da burocracia. Hoje, uma empresa que não se preocupa com a saúde emocional dos colaboradores vai perder talentos.”
Henrique explicou que o cérebro filtra 98% dos estímulos que recebemos. “O que define esse filtro é a pergunta que fazemos a nós mesmos. Ela direciona nosso foco e molda nossa realidade”. Também falou sobre o viés da negatividade, uma tendência biológica que nos faz prestar mais atenção ao que está errado.
Poder da gratidão
Para equilibrar esse padrão, propôs o exercício da gratidão: registrar diariamente três coisas boas que aconteceram nas últimas 24 horas. “Isso fortalece conexões neurais e muda a forma como vivenciamos a realidade. Mas não é #gratidão de rede social. É gratidão como experiência real”.
Durante o encontro, Henrique reforçou que a felicidade deve ser tratada como tema estratégico dentro das organizações. “Ela está diretamente ligada à saúde física, emocional, à longevidade e à cultura das empresas. Precisamos sair da ‘ditadura do ou’ e viver a potência do ‘e’: eu tenho problemas e também tenho força. Eu tenho desafios e também tenho apoio.”
Sobre pequenas e médias empresas, muitas ainda resistentes ao tema, foi direto: “Hoje, há dois fatores de mudança: exigência legal e a dificuldade de engajar talentos. Os jovens querem mais do que salário. Querem propósito”.
Encerrando sua palestra, Henrique deixou uma reflexão sobre protagonismo e escolha. “Nossa vida acontece onde colocamos nosso foco. Quando cultivamos atenção plena, gratidão e presença, aprendemos, de fato, a ser felizes – mesmo diante dos desafios”.