Rogério Chér, consultor, escritor e conferencista, provocou uma profunda reflexão no público do XVIII CONPARH, em palestra realizada no Auditório Alelo. Ele convidou os congressistas a pensar sobre como a cultura viva transforma valores em atitudes no dia a dia. “Nesta longa trajetória, tenho uma certeza: estar desempregado é tão ruim quanto estar desengajado”, afirmou.
Para Chér, o desengajamento é um dos grandes males das organizações modernas.
“Desengajamento custa muito caro. Custa caro demais para o indivíduo, para sua equipe, para sua família, que testemunham uma pessoa desanimada, sem alma, vagando pela rotina corporativa quase como um walking dead”, descreveu.
Segundo ele, a cultura pode ser analisada sob diferentes perspectivas e exemplificada de várias formas. Um dos exemplos citados foi o da Apple, que se tornou mais valiosa do que o PIB do Brasil. “A Apple não é a empresa mais valiosa do mundo apenas por causa de seus produtos ou serviços, mas por causa da sua cultura”, destacou.
Ao analisar a cultura da marca, Chér ressaltou sua capacidade de tocar a alma das pessoas, o que se tornou um diferencial competitivo.
Após apresentar outros casos, o palestrante alertou que uma cultura negligenciada pode comprometer qualquer estratégia. “Uma empresa pode ter a missão mais inspiradora e a visão mais ambiciosa, mas, se essas palavras não reverberam nas atitudes do dia a dia, o que existe ali não é cultura — é discurso”, pontuou.
Outro exemplo mencionado foi o da Lego, fundada na Dinamarca em 1934, que quase desapareceu devido a uma cultura opressora. “A virada começou quando a liderança percebeu que a solução não era cortar custos, mas transformar a cultura. Passaram a criar novos símbolos e rituais que refletissem os valores desejados. O espaço físico foi redesenhado para inspirar as novas atitudes e comportamentos”, explicou.
Citando Peter Drucker, Chér lembrou a máxima de que “a cultura devora a estratégia no café da manhã”, e observou que essa frase nunca foi tão verdadeira quanto hoje, diante de empresas promissoras que falham não por falta de recursos, mas por culturas tóxicas, desengajadoras e desalinhadas com seus desafios estratégicos.
Os 4 D’s da cultura
Rogério Chér resumiu um projeto de cultura eficaz em quatro etapas fundamentais — os “4 D’s”: diagnosticar, definir, demonstrar e declarar a nova cultura. “Isso vai muito além da comunicação. Exige que os líderes demonstrem os novos comportamentos, para construir legitimidade na mudança. O objetivo é engajar todos de corpo e alma, implementando a nova lógica nos processos, nos espaços e nos rituais da organização. Esse esforço coletivo é o que faz a cultura se tornar o motor do resultado”, destacou.
Ele também abordou os arquétipos culturais descritos no modelo Competing Values Framework (CVF), de Cameron e Quinn, que ajudam a compreender as dinâmicas de uma organização. São quatro tipos principais: clã, adocracia, mercado e hierarquia.
“Embora as empresas tenham um arquétipo predominante, é essencial manter um mix desses perfis. Nenhuma organização sobrevive focando apenas em um deles, pois cada um representa valores muitas vezes contraditórios, mas igualmente necessários”, explicou.
“A cultura ideal é ambidestra: precisa do senso de família (clã) para reter talentos, da disciplina (hierarquia) para garantir consistência, da ousadia (adocracia) para inovar e do impulso (mercado) para vencer no ambiente externo. A arte da gestão cultural está em equilibrar esses elementos, transformando a cultura na maior aliada da estratégia — e não em um obstáculo”, ressaltou.
Para concluir, Chér reforçou que a cultura é o único ativo que não pode ser copiado.
“O CEO deve ser o grande fiador da cultura. Cultura efetiva é sinônimo de alta performance. É isso que a torna vantagem competitiva e fortalece a estratégia do negócio.”
Encerrando sua palestra, ele deixou uma mensagem inspiradora:
“A liderança é o motor da cultura. Precisa de propósito e de empreendedorismo social. Por meio da cultura, podemos curar o ambiente de trabalho. As pessoas são profundamente influenciadas pelo local onde trabalham. Cultura forte e saudável não é tendência, é coerência. A cultura é a alma da empresa — se não for cuidada, pode destruir tudo o que foi construído.”
Texto: Básica Comunicações
Fotos: Leandro Provenci e Gian Galani