Saúde e bem-estar na cidade que precisamos foi o tema debatido no painel sobre determinantes eco-sociais da saúde, realizado no segundo dia da 22ª edição da Conferência Mundial de Promoção e Educação na Saúde.
O professor da Universidade de Vitoria (Canadá), Trevor Hancock; Vivian Lin, da diretoria da divisão de desenvolvimento do setor de saúde da WHO – World Health Organization, nas Filipinas; e Sérgio Póvoa Pires, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – Ippuc, protagonizaram os debates sobre cidades saudáveis, mediados por Uta Dietrich, do International Institute for Global Health (Instituto Internacional para a Saúde Global), dos Estados Unidos.
Pessoas e o planeta
Hancock falou sobre a necessidade das cidades se tornarem mais saudáveis para melhorar e aumentar o bem-estar da população como um todo. Um dos fundadores do movimento Cidades e Comunidades Saudáveis, o professor disse que as cidades do século 21 precisam se concentrar em três temas-chave: pessoas, planeta e participação.
Afirmou que estamos entrando na Anthropocene – um novo período de tempo geológico que marca uma época de rápido e colossal impacto humano sobre os sistemas da Terra. Nesta era de urbanização, as cidades são jogadores-chave na garantia de que a humanidade e todas as outras espécies podem viver em harmonia e saudavelmente. Hancock acrescentou que a principal característica das cidades bem-sucedidas do século 21 será uma compreensão do desenvolvimento urbano em termos de interligações complexas entre o ecológico, bases econômicas e sociais do desenvolvimento humano e saúde.
Hancock argumentou que colocar as pessoas, planeta e participação no centro da governança significa que as cidades irão trilhar o caminho para ser tornarem ecologicamente sustentáveis e socialmente justas.
Avaliou que as abordagens convencionais para o crescimento econômico caracterizado por desigualdades de renda e uma dependência insustentável de combustíveis fósseis e outros recursos são naturalmente questionadas. “Precisamos adotar novos modelos econômicos que procurem maximizar o social, a equidade e o desenvolvimento humano, por meio de incentivos para estimular a criação de produtos saudáveis, serviços e infraestrutura ecologicamente sustentáveis e socialmente justos”, concluiu.
Governança
A autora de diversos trabalhos sobre a necessidade da reforma do sistema de saúde pública em diversos países da Ásia, Vivian Lin, apresentou um panorama regional do quadro de saúde urbana no mundo e informou que 212 milhões de pessoas vivem em apenas 6 países, sendo que 56% da população mundial vive em áreas urbanas.
Para ela, a urbanização tem um impacto significativo na saúde. E citou que os fatores que influenciam a saúde urbana são governança, características da população, natureza e ambiente construídos, social e de desenvolvimento econômico, serviços e gestão de emergência de saúde e segurança alimentar.
Vivian garantiu que os governantes devem estar atentos à melhoria das políticas públicas de saúde e recomendou governança e planejamento, programas de gestão para a melhoria da qualidade de vida da população e de rede de profissionais capacitados em funções e papéis definidos no sistema. “O futuro precisa estar orientado e preparado para esse desafio por meio da adaptação e inovação”, recomendou.
Curitiba saudável
O presidente do Ippuc falou sobre as cidades saudáveis e mostrou ações e projetos desenvolvidos em Curitiba e que geram reflexos diretos sobre a qualidade de vida da população. Destacou que, para alcançar a sustentabilidade em todos os seus aspectos, incluindo as pessoas, é preciso que as cidades sejam mais caminháveis (walkables), resilientes, limpas, democráticas, colaborativas, humanas, inovadoras, inclusivas, felizes, inteligentes, compactas e tolerantes.
Citou como exemplos desses determinantes em Curitiba a Rua das Flores, calçadão exclusivo para pedestres e que fica no coração da capital do Paraná; a Área Calma, que engloba 140 quarteirões na área central, onde a velocidade máxima permitida para os veículos é de 40 km por hora; Via Calma, que permite que os ciclistas compartilhem o espaço na via com os veículos que só podem trafegar a uma velocidade máxima de 30 km/h; as Estações de Sustentabilidade levaram a coleta seletiva de resíduos para perto da comunidade e desenvolvendo um espírito colaborativo entre os cidadãos; Portal do Futuro que oferece aos jovens estudantes atividades desportivas e culturais, além de capacitação profissional.
Sérgio Pires ainda assinalou as iniciativas inclusivas como o Semáforo Inteligente, que amplia o tempo de travessia para idosos e pessoas com deficiência a partir do uso do cartão transporte; o playground com equipamentos adaptados para crianças com deficiência; e o ônibus Acesso adaptado para pessoas com deficiência, que atende mais de mil usuários cadastrados, também são inovações que contribuem para a melhoria da saúde e o atendimento deste público específico.
No final de sua apresentação, Sergio Pires apresentou um mapa que mostra a felicidade de países ao redor do mundo e que inclui o Brasil entre essas nações. O HPI (Índice Planeta Feliz) tem a ideia de que a felicidade não é necessariamente sobre a riqueza, mas viver uma vida longa com uma elevada experiência de bem-estar dentro dos limites ambientais do planeta.
“Todas essas iniciativas demonstram que as cidades que, muitas vezes, trazem doenças para as pessoas, também podem representar a cura de muitos males. Em Curitiba, que tem o foco no ser humano, tudo é avaliado sob este prisma, buscando a valorização dos cidadãos e a melhoria da qualidade de vida das pessoas,” concluiu Pires.
O evento, organizado pela União Internacional para a Promoção da Saúde e Educação para a Saúde – UIPES, reúne mais de 2 mil pessoas envolvidas com promoção de saúde e equidade de 70 países, e prossegue até quinta-feira (26), no ExpoUnimed em Curitiba.