Especialista em cultura corporativa analisa a crescente recusa das gerações Z
e Alpha ao modelo tradicional de trabalho
A crescente rejeição ao modelo tradicional de trabalho por parte das gerações Z e Alpha tem gerado um novo desafio para as empresas brasileiras: preencher vagas formais, especialmente nos cargos de entrada. Enquanto memes sobre a CLT se espalham pelas redes sociais, empresários enfrentam dificuldades para contratar, engajar e reter jovens talentos.
Segundo uma pesquisa do Datafolha, 68% dos jovens entre 16 e 24 anos preferem empreender a buscar um emprego com carteira assinada. A preferência reflete um colapso na atratividade estrutural do mercado de trabalho formal, indo além de uma simples questão de linguagem ou tendência.
Para o especialista em cultura corporativa e CEO da DHEO Consultoria, Adeildo Nascimento, o problema não está na juventude, mas em um sistema de trabalho ultrapassado que já não conversa com os valores e aspirações das novas gerações.
“Boa parte dos empresários continua oferecendo o mesmo modelo da Revolução Industrial, com estruturas hierárquicas rígidas, jornadas inflexíveis e salários pouco atrativos. O jovem olha para isso e diz: não quero. É hora de entender que a nova geração não é preguiçosa ou irresponsável – ela apenas não se vê nesse sistema”, afirma Nascimento.
Diante das mudanças no perfil dos profissionais que ingressam no mercado, algumas empresas têm adotado novas abordagens em suas práticas de gestão e cultura organizacional. De acordo com o CEO e fundador da DHEO, uma das possibilidades discutidas é o redesenho da experiência de trabalho, em vez de apenas reformular aspectos formais do contrato.
Entre os aspectos valorizados pelas novas gerações, têm ganhado destaque temas como propósito, remuneração compatível e maior liberdade. Assim, algumas recomendações direcionadas a lideranças empresariais incluem a adoção de jornadas de trabalho mais flexíveis e adaptadas à realidade dos colaboradores; ampliação da autonomia e da participação em decisões cotidianas; incentivo ao intraempreendedorismo, com espaço para inovação interna; práticas contínuas de feedback voltadas ao desenvolvimento profissional; além de modelos de remuneração mais dinâmicos e alinhados ao valor entregue por cada colaborador.
“Se o seu capital ainda é humano — e não substituído por IA ou automação — você vai precisar ajustar o jogo. Ou remodela sua cultura de trabalho, ou continuará perdendo os melhores talentos para o mercado informal ou para outras empresas mais ousadas”, conclui Adeildo.