Portugal, Peru e Rússia homenageados no Café das Nações de Julho

11 de julho de 2025


Nesta quarta-feira, a Associação Comercial do Paraná (ACP) sediou a edição de Julho do Café das Nações, promovido mensalmente pelo Conselho de Negócios e Relações Internacionais (Coninter) em parceria com o jornal Diário Indústria & Comércio. No dia de hoje, o Café das Nações homenageou os países que possuem data oficial nos meses de Junho e Julho: Portugal, Peru e Rússia (30/07).

“O evento promove a integração entre consulados, câmaras bilaterais de comércio, entidades e empresários, incentivando a troca de experiências, a geração de negócios internacionais e o fortalecimento do networking, ao mesmo tempo em que celebra as datas nacionais dos países homenageados”, sintetizou o Coordenador do Coninter, Monroe Olsen, ao dar as boas-vindas aos convidados.

Em um discurso forte e reflexivo, Antoninho Caron agradeceu a presença de todos, em nome do Presidente Antônio Gilberto Deggerone, e mergulhou na abordagem da formação de uma nova ordem econômica mundial e seus impactos sobre as nações, suas culturas e seus povos.

“Estamos saindo da penumbra da ignorância e começando a vislumbrar a luz que ilumina nossas mentes. Da sombra da noite à clarividência dada pelo conhecimento”, afirmou, ao iniciar sua análise sobre o cenário global. Segundo ele, vivemos um momento de transição em que se demanda conhecimento, consciência e responsabilidade coletiva.

“Uma nação que não cultua seus heróis está fadada à perda do presente, e, consequentemente, do futuro. Este cuidado com os hinos e as celebrações nacionais não são apenas formas de manifestação cultural, mas ferramentas fundamentais de coesão social. É por meio deles que um povo se sente unido, percebe-se como nação”, disse.

A “nova ordem”, para Caron, muitas vezes se mostra como “desordem”. Ele resgatou o exemplo do grupo de Gênova, ainda em 1640, que já se preocupava com as bases do comércio mundial. “Por mais que se produza, se não houver relação de confiança, não há trocas. E a humanidade se constitui justamente por meio das trocas — de serviços, de produtos, de saberes”, afirmou.

Ele também analisou o papel de organizações internacionais formadas no século XX, como a ONU, e os interesses por trás de um possível enfraquecimento dos governos nacionais em nome de uma governança global. “Quem controla essa nova ordem? Por que querem enfraquecer os governos centrais? Isso ameaça os ensinamentos da nossa história, os valores que construímos enquanto sociedade”, questionou Caron, levantando a hipótese de que não estaríamos diante de uma nova ordem, mas sim de uma nova dominação.

Segundo ele, é fundamental refletir sobre que valores estão sendo promovidos no lugar daqueles que vêm sendo desmontados. “Se destruo governos centrais, éticas e valores, que novos valores estou implantando? E a serviço de quem?”, provocou.

Portugal: 800 anos de história e estabilidade das fronteiras

Em seguida, o Vice-Cônsul de Portugal, André Bandeira, compartilhou reflexões sobre a importância histórica e cultural do país que representa. Há dois anos atuando na capital paranaense, Bandeira iniciou sua fala destacando a singularidade de Portugal no contexto europeu. “Somos um país com mais de 800 anos de história e que se distingue pela estabilidade de suas fronteiras, algo raro na Europa”, disse.

Segundo o diplomata, essa estabilidade territorial não apenas consolidou a identidade nacional portuguesa, como também permitiu o fortalecimento de uma das maiores riquezas do país: sua língua. “Portugal é a nação com a unidade linguística mais antiga da Europa. A língua portuguesa foi um dos nossos maiores legados ao mundo”, afirmou, lembrando da expansão da língua portuguesa para diversos continentes, citando países como Brasil e Angola, onde o idioma não apenas se estabeleceu como língua oficial, mas se tornou um elo profundo entre povos. “Mais do que palavras, a língua portuguesa criou uma ligação cultural, mental e espiritual entre milhões de pessoas espalhadas pelo globo”, citou.

Para ele, o português é resultado de uma verdadeira fusão de culturas, que se enriqueceu ao longo dos séculos com influências árabes, africanas, indígenas, asiáticas e europeias. Essa diversidade, segundo o vice-cônsul, é motivo de grande orgulho. “Se tivesse que destacar uma principal qualidade da qual me orgulho como português, seria essa: a força integradora e universal da nossa língua”, encerrou.

Rússia: liberdade de comprar e vender na própria moeda

Com fala marcada por sobriedade e posicionamento diplomático, o cônsul da Rússia, Acef Antonio Said, abordou temas centrais das relações internacionais contemporâneas, reforçando a importância do respeito entre as nações e a busca por um mundo mais equilibrado e multipolar. Logo no início, fez questão de afirmar seu compromisso com a diplomacia e o diálogo.

“Enalteço a relação de respeito com meus pares. Não estou aqui para defender ideologias ou situações específicas. Este é um fórum de relações pessoais e comerciais, e é com esse espírito que venho contribuir”, declarou.

Ao tratar da mudança da ordem mundial, Said lembrou que, ao longo da história, o poder sempre foi cíclico. “Não existe poder eterno. É preciso lembrar que a geopolítica muda, as forças se reequilibram, e isso faz parte da dinâmica natural do mundo”, afirmou.

Na perspectiva do comércio internacional, o diplomata destacou um ponto sensível para os países emergentes: a liberdade monetária nas transações globais. “Quem trabalha com comércio exterior sabe o quanto é difícil esse mercado. Nós defendemos a liberdade de comprar e vender na própria moeda. Por que não posso defender minha própria moeda, sem ser ameaçado por sobretaxas ou sanções?”, questionou.

Segundo ele, a discussão sobre a multipolaridade vai além da política: trata-se de garantir que as nações tenham o direito de escolher seus próprios caminhos, inclusive no campo econômico. “O mundo precisa de polaridade. Ninguém é dono da verdade. As pessoas têm livre-arbítrio, e os países também”, encerrou, defendendo a ideia de um mundo multipolar como uma forma de promover maior autonomia entre as nações. “A multipolaridade é justamente isso: permitir que haja diferentes centros de influência e que os países possam estabelecer negócios diretos — sem a necessidade de, por exemplo, usar exclusivamente o dólar em todas as transações”, concluiu.

Peru: turismo, economia diversificada e riqueza cultural

O cônsul do Peru, Luiz Henrique Sossela Costa Lima, destacou os avanços do país nos últimos anos, com foco especial no turismo, na economia diversificada e na riqueza cultural que faz do Peru uma das nações mais singulares da América do Sul.

“Represento o Peru há 18 anos com imenso orgulho, e posso afirmar que vivemos um momento de crescimento consistente”, iniciou o cônsul, lembrando que o país vem se destacando especialmente no setor de turismo, recebendo voos de diversas partes do mundo. Destinos icônicos como Lima e Machu Picchu continuam a atrair milhares de visitantes todos os anos, reforçando o Peru como referência internacional em patrimônio histórico e belezas naturais.

Mas o Peru vai além do turismo. O cônsul enfatizou a força da economia peruana, que é marcada por uma ampla diversidade de setores. No campo mineral, o país figura entre os maiores produtores mundiais de cobre, além de possuir expressivas reservas de zinco, chumbo, prata e gás natural. “Somos um dos maiores exportadores de cobre do mundo, o que nos posiciona com destaque no mercado global de commodities”, explicou.

Na agricultura, o Peru tem se destacado com produtos como café, cacau e frutas de alto valor agregado, como mirtilo, aspargos e azeitonas. A produção agrícola voltada à exportação vem crescendo a passos largos, fortalecendo a economia e gerando empregos em várias regiões do país.

Outro destaque é o setor pesqueiro. Com uma costa rica e produtiva, o Peru é um dos principais exportadores de pescado do mundo, além do prestígio internacional do algodão peruano e da tradicional lã de alpaca, reconhecida por sua qualidade e utilizada na produção têxtil de alto padrão.

“Nosso país é um verdadeiro mosaico de riquezas culturais, econômicas e naturais. O Peru tem muito a oferecer ao mundo, e continua de braços abertos para o diálogo, o comércio e a construção de laços cada vez mais fortes com outras nações”, finalizou.

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