Ao longo dos anos, o burnout deixou de ser exceção e se tornou um retrato cotidiano dentro das empresas. De acordo com dados de 2023 da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome, o que coloca o país na segunda posição do ranking mundial.
O esgotamento mental e emocional já não escolhe cargo, área ou tempo de casa. Ele simplesmente chega, silencioso, mas devastador. E enquanto os números crescem, a pergunta que ecoa é: o que pode ser feito para mudar essa realidade?
Roseli de Fátima Gonçalves de Souza, presidente do Conatesi (Conselho Nacional de Terapias da Saúde Integrada), acredita que as práticas integrativas e complementares são um caminho para reverter esse cenário, pois olham para o colaborador de forma integral.
“Essas práticas priorizam o acolhimento, a escuta ativa e a busca pelas causas profundas do sofrimento, contribuindo para a prevenção e o alívio do estresse, da ansiedade e de outros desequilíbrios através de recursos naturais e estratégias que promovem saúde, bem-estar e qualidade de vida”, explica Roseli.
Nesse sentido, a presidente cita que terapias como hipnoterapia, yoga, Reiki, terapia floral, psicoterapia integrativa e acupuntura têm se mostrado eficazes na prevenção e alívio do estresse e da ansiedade. Mas seu maior valor está em algo ainda mais essencial: criar espaços de escuta e presença, promovendo ambientes onde o colaborador possa respirar, se expressar e ser compreendido.
Programas internos de apoio emocional podem ser a virada de chave
A boa notícia é que há caminhos práticos. Empresas que estruturam programas internos de saúde emocional deixam de apenas reagir a afastamentos e passam a construir ambientes mais saudáveis desde a base. Segundo Roseli, a chave está em olhar o bem-estar como estratégia de sustentabilidade humana.
Um programa de saúde mental organizacional eficaz não pode se limitar a ações pontuais, mas deve ser estruturado como um sistema contínuo de cuidado. Deve incluir diagnóstico organizacional, apoio das lideranças, acesso fácil a espaços terapêuticos (formais e informais), psicoeducação para todos, e, acima de tudo, flexibilidade e respeito aos limites individuais. Essa combinação fortalece a cultura de bem-estar e reduz o adoecimento.
“Quando a empresa investe no bem-estar de sua equipe, promovendo ações de reconhecimento, desenvolvimento pessoal e profissional, integração e cuidados com a saúde física e emocional, os resultados se refletem diretamente na produtividade, na redução de faltas, na melhoria do foco e na qualidade do clima organizacional.”, afirma Roseli
No entanto, ela reforça que ainda há resistência. Muitos líderes veem o tema como um problema pessoal e não como uma responsabilidade coletiva. Outros estão sobrecarregados emocionalmente e, por medo de demonstrar vulnerabilidade, acabam ignorando ou minimizando essas questões no ambiente de trabalho.
Mas essa mentalidade está com os dias contados. Com a atualização da NR-1, que tornará obrigatória a avaliação e o gerenciamento dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho, saúde mental, enfim, deixará de ser tabu e passará a ser uma norma.
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