Primeiro painel da manhã debate as perspectivas políticas e econômicas do Brasil

25 de setembro de 2018


Com a moderação da jornalista da Globonews, Natuza Nery, e a participação do também jornalista Carlos Alberto Sardenberg, da CBN, e o cientista político Carlos Melo, o segundo dia do XV Congresso Paranaense de Recursos Humanos iniciou com o painel “Perspectivas Políticas e Econômicas para o Brasil”.

 

Primeiro a falar, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg disse que nesta eleição o povo brasileiro irá eleger não só o presidente, mas membros do Legislativo e Executivo dos municípios, “que estão quebrados”.

 

Com base em números, o jornalista mostrou que não houve recessão no resto do mundo, todos os países estão crescendo, exceto o Brasil que está com um crescimento bem abaixo. “O Brasil está claramente fora do esquadro, um resultado extremamente ruim e não é de hoje”, disse. Um dos riscos na economia mundial, que pode reverter esse quadro, é a guerra comercial, especialmente entre Estados Unidos e China, com um viés político. Temos na economia mundial fundamentos macroeconômicos bons e contas públicas organizadas, “o que temos é um problema político e a confusão que o Trump está querendo instaurar”.

 

Segundo Sardenberg, ao introduzir alguns dados econômicos, o Brasil, comparado com o Brasil, melhorou. “Temos reservas abundantes em dólar, ou seja, é difícil haver uma corrida contra o real”. O processo de recuperação está sendo muito lento, crescendo 1% ao ano, não é possível reaver o que se perdeu. “Para pagar a crise que teve, o Brasil tem que crescer 4,5% a 5% ao ano”. A taxa de desemprego está caindo, neste ano 500 mil vagas foram criadas, mas para o jornalista, o tamanho do estrago foi tanto, que esses números não “abalam o mercado”. A economia crescendo devagar não atende a demanda suficientemente. “O Brasil comparado com os anos de 2013 a 2015, melhorou, mas não saiu do buraco”, afirmou.

 

Mais de 60% das despesas públicas são com previdência e pessoal. “Pagando as despesas, sobram 15% para tudo. Saúde, educação, infraestrutura, investimentos”, disse. O nível de investimento hoje no Brasil é de R$ 25 bilhões, ao ano, “é uma mixaria para um país do porte do Brasil”, complementou. Sardenberg defende uma ampla reforma, especialmente na previdência, “não é um corte de gasto aqui ou ali que irá resolver”.  Em resumo, o tripé do problema é o gasto público, com pessoal e o previdenciário.

 

O setor público do Brasil gasta mais de R$ 3 trilhões, “como dizer que o país não tem dinheiro?”, questionou. O resultado é que o Brasil está numa escalada sem saída, o déficit cresce a cada ano. Há três décadas a despesa primária cresce 5% ao ano e o PIB, 2,4%. “Chegaremos em uma situação em que o estado brasileiro não cabe mais no PIB. Primeiro precisamos de uma grande reforma da previdência, em que o povo brasileiro terá que trabalhar mais e vamos ganhar menos, ou por uma decisão política ou por falta de dinheiro. E o segundo, a reforma no setor público terá que ser de grandes proporções”, finalizou.

 

 

“O mundo está correndo para o passado”

O cientista político Carlos de Melo falou logo na sequência, começando com uma frase do ex-ministro Pedro Malan: “no Brasil até o passado é imprevisível”. Para ele, há uma grande crise na democracia liberal, “que é o que conhecemos”, disse. O mundo de uma forma geral, no pós-guerra para os dias de hoje, incorporou a democracia liberal.

 

Houve uma enorme alteração na produtividade, na forma de comunicação, nas relações; mas a política não acompanhou isso. “É como se a política vivesse no analógico e, nós, no tecnológico”, disse. Na China, criaram a fábrica escura que não tem uma única lâmpada, porque não há pessoas, apenas robôs. “O mundo está nos levando a um local com muita informação e pouca demanda de mão de obra”, afirmou. O cientista político citou que a geração do filho dele, com 12 anos, segundo provisões, irá mudar de profissão 12 vezes na sua vida, “será que temos educação para isso, estrutura de ensino?”, perguntou.

 

A mudança do mundo impactou nas lideranças políticas mundiais, “uma decadência”. O que acontece é que o mundo está correndo para o passado, “o que são líderes que pontuam, uma busca no passado, idílico, não volta mais”, disse. Como se falar de futuro, se o passado é colocado como fantasma? Quando a sociedade acredita que a política é coisa de malandros, a malandragem agradece, quem não gosta de uma reserva de mercado?”, disse. Foi o jogado o valor da política no lixo e, por consequência, o futuro. “Este é o desalento que nós vivemos”.

 

É um problema mundial, mas no Brasil é mais difícil porque acrescem as crises: econômica, presidencialismo de coalisão, financiamento da política, privilégios de castas, de lideranças e a do prazer hedonista individual. “olhar para o futuro é recuperar o presente, é necessário recuperar o humano. Acho que estamos distantes disso, mas não podemos jogar a toalha. Temos que reinventar o mundo para construirmos o futuro”, finalizou.

 

O XV CONPARH segue até o final do dia de hoje, na Fiep, em Curitiba/PR.

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