O envelhecimento da população brasileira é um dado incontestável. Hoje, 26% dos brasileiros têm mais de 50 anos, e até 2030, segundo a Fundação Getúlio Vargas – FGV, mais da metade da força de trabalho será composta por pessoas acima dos 45 anos. Diante desse cenário, ignorar esse grupo é abrir mão de uma fonte rica em experiência e de um poder de consumo crescente, com alto potencial de movimentar a economia.
Com o aumento da expectativa de vida, o perfil da força de trabalho mudou e a forma de encarar a carreira, também. Para Morris Litvak, fundador e CEO da Maturi, organização que promove a inclusão de profissionais 50+ no mercado de trabalho, discutir o conceito de longevidade intencional é mais do que envelhecer com propósito. É fazer escolhas conscientes sobre como seguir contribuindo, aprendendo e se reinventando ao longo da vida profissional.
“Ter uma carreira longeva e intencional exige investir constantemente em aprendizado contínuo. O lifelong learning é essencial para manter a mente ativa, acompanhar as transformações do mercado e sustentar relevância e protagonismo em qualquer fase da vida”, afirma Mórris. Segundo ele, além de se manter atualizado, é fundamental desenvolver habilidades socioemocionais, cultivar uma rede diversa de relacionamentos profissionais, e ter clareza sobre o próprio propósito.
Mas não basta apenas que o indivíduo esteja disposto. As empresas também precisam se adaptar. Para Mórris, o primeiro passo é sair do discurso e entrar na prática. “É preciso criar programas específicos para profissionais maduros, oferecendo oportunidades reais de capacitação, atualização e desenvolvimento. A inclusão de mentorias – tanto tradicionais quanto reversas — e a promoção de ambientes multigeracionais são caminhos concretos”, diz.
Diversidade etária
Ele destaca ainda a importância de as organizações buscarem certificações como Age Friendly, que atestam o comprometimento genuíno com a diversidade etária. E lembra que os benefícios vão além da responsabilidade social. “Equipes com diversidade geracional são mais criativas, resilientes e inovadoras”, afirma.
Do ponto de vista emocional e social, a longevidade intencional também traz impactos relevantes. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), viver com propósito reduz o risco de depressão e isolamento, além de aumentar a satisfação geral com a vida. Nesse cenário, o papel das empresas é promover saúde mental e bem-estar em todas as faixas etárias. “Ambientes inclusivos, programas de suporte emocional e ações que valorizem a escuta ativa entre gerações ajudam a construir culturas organizacionais mais humanas e sustentáveis”, sustenta.
Despreparo para o futuro etário
Um estudo inédito realizado pela Maturi, em parceria com a Ernst & Young Brasil, ouviu 191 empresas de 13 setores e revelou que 80% dos entrevistados não possuem políticas específicas para a contratação de profissionais com mais de 50 anos. Além disso, apenas 26% consideram o tema parte da agenda estratégica da empresa.
Embora 57% das organizações reconheçam que o tema será cada vez mais relevante nos próximos três anos, a maioria ainda pratica ações pontuais ou nem sequer iniciou qualquer movimento.
Os obstáculos vão desde estereótipos enraizados até a falta de visão estratégica da liderança: 41% das empresas afirmam que ainda não têm clareza sobre o tema, e apenas 4% o tratam como de extrema importância. Esse cenário deixa muitos profissionais maduros em um beco sem saída, sem perspectivas de crescimento ou reinvenção.
Diferencial competitivo
Romper o etarismo, ainda presente de forma sutil ou explícita nas empresas, é urgente. A diversidade etária não é só uma pauta inclusiva – é um diferencial competitivo. Empresas que reconhecem isso relatam benefícios claros: 48% destacam ganho de experiência e melhoria da gestão do conhecimento; 45% percebem melhoria nas relações interpessoais; 28% apontam impacto positivo no clima organizacional; 40% ressaltam a complementaridade entre gerações. Além disso, Mórris pontua que 88% dos entrevistados concordam que organizações preparadas para o envelhecimento terão vantagem competitiva.
As empresas precisam deixar o discurso e adotar práticas efetivas: criar programas de capacitação digital para profissionais 50+, implementar mentorias reversas, revisar processos seletivos e de promoção, e incentivar a certificação como empresa age friendly “O protagonismo na maturidade não acontece por acaso. Assim como o preparo das empresas para lidar com esse novo cenário. É preciso ação intencional, estratégia de longo prazo e vontade de promover mudanças estruturais”, finaliza.
XVIII CONPARH
O tema “Longevidade Intencional: protagonizando seu futuro” será tratado com mais profundidade por Mórris Litvak, no XVIII Congresso Paranaense de Recursos Humanos – CONPARH 2025 – “Tudo que só o humano pode fazer”.
O evento, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná – ABRH-PR, acontecerá nos dias 22 e 23 de outubro, no Viasoft Experience, em Curitiba.
Mórris adianta que no congresso, a sua missão é trazer esse tema para o centro do debate: longevidade com propósito, em empresas com visão de futuro. “Afinal, todos vamos envelhecer. A questão é: vamos nos preparar para envelhecer com dignidade, propósito e protagonismo?”
Mais informações: https://conparh.com.br/