“Superação nasce quando a vida nos coloca diante de um limite e precisamos encontrar forças para seguir em frente”. Com essa declaração, Fabiana Parro, vice-prefeita de Paranaguá e fundadora do Instituto Peito Aberto, abriu sua fala na noite desta segunda-feira (13.10), durante o evento do Outubro Rosa, realizado na sede da Associação Comercial do Paraná (ACP), em Curitiba.
Sob o título “Superação: uma história de força e esperança”, Fabiana emocionou o público ao transformar a dor em diálogo e o diagnóstico de câncer de mama em um chamado à vida. Ela compartilhou sua trajetória, marcada pela descoberta da doença aos 36 anos, e a forma como o câncer se tornou o ponto de virada de sua existência.
“Foi um caminho difícil, mas se eu não tivesse passado por tudo que passei, eu não estaria aqui hoje. Eu era uma pessoa muito tímida, e o câncer me libertou disso”. Fonoaudióloga por formação, esposa de médico e mãe de dois filhos, Fabiana contou que o diagnóstico rápido foi determinante para sua cura, mas também a fez enxergar a desigualdade. “Eu percebi que muitas mulheres não têm esse acesso. Enquanto eu tive diagnóstico em duas semanas, outras esperam meses. Isso é cruel”.
Entre risos e lágrimas, ela recordou o momento em que perdeu o cabelo por causa do tratamento e o medo de ser julgada. “Minha preocupação era aparecer careca na festa da minha filha. Por vergonha. Por quê? Porque ainda tem gente que acha que câncer é castigo”. Relatou que a virada de chave veio de uma reação da filha: “Ela ganhou uma boneca careca e disse: ‘Mamãe, ela é igual a você!’. Naquele instante, entendi que o problema não estava no meu cabelo, estava no meu olhar, na minha mente”.
Necessidade e prioridade
Ao falar sobre o apoio da família, destacou o papel decisivo do marido: “Ele me disse: você tem uma escolha, pode ficar no quarto chorando ou pode levantar e viver. E eu decidi viver”. Fabiana reforçou que sua luta não foi uma opção, mas uma necessidade. “Eu tinha dois filhos pequenos e um câncer agressivo. A vida me parou para que eu aprendesse o que realmente importa”. E lembrou do apoio da mãe e da sogra com os cuidados com os filhos, quando precisou parar de trabalhar e passar pelo tratamento. E contabilizou: “foram 16 sessões de quimioterapia, 35 de radioterapia e 5 cirurgias. Já fazem 13 anos”.
Fabiana também abordou a importância de colocar a própria saúde como prioridade. “Quantas vezes sentimos algo e deixamos pra depois? A mulher precisa se colocar em primeiro lugar. Só 10% dos casos de câncer de mama são genéticos, o resto é sobre o que fazemos com a gente”.
Lembrou que a dor na hora do exame, o medo do diagnóstico e de perder o controle da vida fazem com que muitas mulheres deixem de fazer o exames preventivos. Essas são dificuldades que devem ser superadas, pois é delas que encontramos a força transformadora para aceitar e continuar lutando”, frisou.
Ela contou que o grande questionamento que norteou sua trajetória foi: “Se eu não existisse, que falta eu faria? O que vai ficar é o legado, o que deixamos nas pessoas, nos gestos, nos sorrisos. Eu sou grata a Deus por ter tido o câncer. Ele me deu a chance de reencontrar a vida. Que a nossa passagem pelo mundo não seja apenas sobre existir, mas sobre fazer a diferença. Um sorriso que ilumina, um abraço que acolhe, um gesto de cuidar, isso é o que realmente transforma uma vida.”
Peito aberto
Da dor, nasceu um propósito. Um ano após o tratamento, Fabiana fundou o Instituto Peito Aberto, de uma forma orgânica, quando sua médica a convidou para ajudar a organizar um Outubro Rosa. Fabiana percebeu a disparidade: mulheres com câncer não tinham acesso a fisioterapia, nutricionista ou orientação médica adequada, o que gerava sequelas. “Eu ia ajudando da forma que eu conseguia naquele momento… E eu fui vendo que as pessoas ao meu redor… não tinham o que eu tinha”.
O Instituto nasceu em 2013 de uma roda de conversa de 15 mulheres, com o propósito de “transformar dor em amor ao próximo”. O objetivo é a reabilitação das mulheres para que voltem ao mercado de trabalho e às suas famílias, com foco na mudança de hábitos e de perspectiva. Hoje são 50 voluntários, profissionais de várias áreas que atendem as pacientes. “Todas precisam de acolhimento, carinho, um abraço, uma escuta, um olhar de carinho”.
O evento
A noite foi conduzida pelo coordenador e pela vice-coordenadora do Conselho de Jovens Empresários da ACP (CJE), Odilon Grube e Maria Camila Turmina, com abertura do presidente da ACP, Antonio Gilberto Deggerone. Ele ressaltou que o papel da instituição, prestes a completar 135 anos, é “cultivar e cultuar valores essenciais”.
“Em um mundo de transbordamento, precisamos selecionar o que escutamos. Essa é também a missão da ACP: cultivar e cultuar o que há de melhor”. Deggerone homenageou ainda o patrono da entidade, Barão do Serro Azul, e destacou a importância dos professores na semana dedicada a eles. “O professor, que nem sempre é lembrado, merece nossa gratidão”.
O poder dos 5 minutos
O evento também contou com a participação de Lilian Miranda, presidente da ONG Mãos Sem Fronteiras no Brasil, que apresentou o projeto “O Poder dos 5 Minutos”. Ela destacou o impacto do aplicativo gratuito “5 Minutos Eu Medito”, que promove a saúde mental e a cultura de paz, e já soma mais de 31 milhões de minutos meditados no mundo, 400 mil downloads em 190 países. O app gratuito e social tem o slogan “Quando você tem paz, o mundo tem paz”.
“A gente faz exercício para o corpo, mas o que fazemos pela mente?” questionou Lilian, incentivando o público a adotar o hábito da meditação. “Em sete dias, cinco minutos por dia, vocês já sentem a diferença no sono, no foco e na serenidade”.
Com leveza e verdade, Lilian contou que conheceu a prática em um momento de desequilíbrio pessoal. “Eu tinha tudo, mas não tinha saúde mental. A guerra começa na mente, e é nela que precisamos instaurar a cultura de paz”. Em sintonia com o espírito do Outubro Rosa, ela reforçou que a mente equilibrada é parte essencial da saúde. “Quando uma mulher recebe um diagnóstico, toda a família adoece. Esses cinco minutos ajudam a reorganizar os pensamentos e a fortalecer o emocional”.