O médico veterinário Vinicius Perez, que atua nos Serviços Ambulatoriais de Cuidados Paliativos do EVET, Flor se Lótus e Hospital Veterinários Pet Care em São Paulo, fala sobre os cuidados paliativos na fase final da vida dos animais e também sobre a eutanásia no Comdor 2019. “Por ser um tema bastante novo na área há uma necessidade de se explicar as bases, os fundamentos e os princípios do que são os cuidados paliativos, uma vez que no Brasil ainda se tem uma visão pejorativa do tema”, diz Perez. Portanto, a sua ideia é mudar este quadro equivocado e reforçar os conceitos dos cuidados paliativos, entendendo sua origem e função.
Nessas situações se encaixam pacientes vulneráveis com doenças crônicas, progressivas e ameaçadoras da vida, “ou seja, doenças potencialmente fatais, sejam fora de possibilidade de cura ou até com possibilidade de reversibilidade, mas que, momentaneamente, ameaçam a vida”, resume. Nessas condições, diante do aprendizado tradicional das pessoas do cuidado em doenças, elas entendem que não há nada mais a se fazer pelo paciente. “Os cuidados paliativos têm uma visão, não centrada na doença, mas no ser que está doente, no paciente. E também na sua família, que adoece junto. E à luz desta clareza, reverte-se a ideia de que não há mais nada a ser feito e passa a entender que há muito a ser feito com o objetivo de aliviar o sofrimento, de ser um abrigo para o outro”, explica. Dando, assim, condições para o enfrentamento do processo da finitude e da terminalidade.
O especialista esclarece que os cuidados paliativos não estão vinculados exclusivamente a fim de vida. “É importante deixar claro que, embora hoje seja um tema do Congresso, cuidados paliativos em final de vida não são sinônimos. A gente pode e deve ofertar os cuidados aos pacientes a partir do diagnóstico de uma condição crônica. Desta forma, oferece não apenas maior qualidade de vida, mas também, mais tempo de sobrevida”, explica.
Diante desta ótica mais ampla do que se entende como possibilidade de oferta de cuidados para uma doença que não tem cura, passa a se perceber de uma nova forma a indicação de uma eutanásia. “Infelizmente, embora a eutanásia seja uma prática regulamentada e possível legalmente para animais, isso não significa que ela é a única forma disponível ou que deve ser instituída de forma desordenada ou descriteriosa”, fala. Para o médico a família pode optar pela eutanásia se houver critérios técnicos e se fizer sentido para o núcleo familiar. “Pela nossa cultura temos uma grande dificuldade em falarmos sobre a morte, a finitude. Evitamos porque, se não estamos vendo a morte, significa que ela não chegará. E isto tem consequência drásticas, porque não conversar ou pensar a respeito faz com que quando aconteça, possa ser de forma mais caótica e desorganizada porque não estávamos preparados”, diz. Por fim, Perez entende que o Congresso é uma ótima oportunidade de disseminar, também, o conceito dor total, em que não apenas o físico adoece, mas também o emocional, social e o existencial.