A eletrificação da frota de veículos é uma realidade no mundo, porém automóveis por combustão não deixarão de existir
No primeiro trimestre de 2018 a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) divulgou um aumento de 58,9% na venda de carros elétricos e híbridos no Brasil no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam que existem pouco mais de 7,1 mil carros elétricos no país, o que representa 0,02% da frota nacional. A expectativa é chegar a 10 mil até o final de 2018 e a 100 mil nos próximos cinco anos.
Esses números são importantes para traçar o cenário de um movimento que está acontecendo em todo o mundo: um olhar mais apurado aos veículos elétricos e híbridos. A ponto de tradicionais indústrias automotivas divulgarem novas políticas de mercado. A Volvo anunciou que a partir de 2019 todos os seus carros serão veículos híbridos ou elétricos e a Mercedes Benz investirá US$ 11 bilhões para o desenvolvimento desses veículos nos próximos cinco anos. Países como Noruega e Índia expuseram que tem por objetivo acabar com vendas de carros com combustíveis fósseis até 2030. Recentemente a França engrossou esta lista, tendo como meta o ano de 2040. Portanto, é uma realidade com a qual a sociedade terá que lidar daqui para frente.
E o Brasil?
Apesar da procura por veículos elétricos e híbridos (saiba a diferença no box “Você sabia”) estar crescendo no país, os números ainda são tímidos em comparação a outros países. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgou que o ano de 2017 bateu recorde na adesão de veículos movidos a eletricidade no mundo. No período, chegou a um milhão de carros vendidos, somando 3 milhões hoje em movimento. Deste volume, 40% estão na China e cerca de 25% nos Estados Unidos.
Vários são os motivos pelos quais ainda é pequeno o crescimento no Brasil mas, basicamente, o custo de produção, de venda, falta de estrutura de abastecimento e de conhecimento da população. São tímidas as iniciativas brasileiras, mas elas existem. “O Brasil já conta com algumas empresas que comercializam e produzem carros elétricos. Por exemplo, em Curitiba, existe uma empresa pioneira na produção de carros elétricos no país, a Hitech-Eletric. Atualmente, os valores iniciais destes veículos começam em torno dos 50 mil reais. O que pode baratear estes veículos é sua produção em maior escala”, diz o engenheiro eletricista Wagner Endo.
Segundo a FGV Energia os países que mais avançam na eletrificação da frota contam com estímulos governamentais, como redução de impostos, restrições aos veículos movidos por combustíveis fósseis ou ajuda de custo ao consumidor final. Para Endo, a discussão envolve principalmente a disponibilidade de matriz energética, “como tudo na engenharia, está relacionada ao custo, ao investimento na infraestrutura, dentre outros fatores econômicos”, complementa. Ele explica que não há viabilidade econômica em carros elétricos se a matriz energética do país depender de fontes não sustentáveis de energia. “Por isso, juntamente com o advento dos carros elétricos, é extremamente necessário o investimento em energias renováveis, tal como, energia solar, energia eólica e em alguns casos a energia de usinas hidroelétricas”. Investidores do mercado estão em consonância com esse argumento, o Brasil será um importante player a partir do momento que investir na matriz energética com fontes limpas.
Abastecimento
A eletrificação da frota passa pela expansão nos pontos de recarga ligados à rede elétrica, tanto em domicílios quanto em ambientes públicos. São os chamados “eletropostos”, que abastecem os veículos elétricos ou híbridos. No Brasil, o aplicativo PlugShare, que mapeia o serviço, sugere que há entre 130 e 150 instalados no país – os números não são exatos. Endo destaca que a disponibilidade de eletropostos no país ainda é muito restrita, mas cita alguns exemplos. “A CELESC possui uma rede de eletropostos na BR-10 entre, Joinville e Florianópolis em Santa Catarina. A CPFL em São Paulo, já conta com uma rede na região metropolitana de Campinas. A COPEL é responsável pela eletrovia entre Paranaguá e Foz do Iguaçu, na BR-277”.
Para o crescimento do setor o Poder Público tem papel fundamental, já comprovado por experiências em outros países. Um primeiro passo no Brasil foi dado com o programa Rota 2030, anunciado em julho deste ano pelo Governo Federal, com regras e incentivos para fabricantes de carros que deverá vigorar pelos próximos 15 anos.
Dentre os pontos do projeto há o incentivo fiscal de até R$ 1,5 bilhão por ano se as empresas investirem pelo menos R$ 5 bilhões em pesquisas no Brasil e as indústrias devem melhorar a eficiência energética em 11% até 2022, reduzindo o consumo médio de combustível. Mas a grande notícia para o setor é a redução do IPI de 25% para uma faixa entre 7% e 20%, além dos híbridos com motor flex terem um desconto extra.
O engenheiro eletricista Wagner Endo afirma que no papel, o programa é muito interessante, mas faz a ressalva de que as metas trazem benefícios apenas às montadoras. “Para que se gere maior impacto, toda a cadeia produtiva do setor elétrico também deveria ser envolvida. O Programa Rota 2030 incentiva a eficiência energética em automóveis que é só uma das etapas para a predominância de carros elétricos no país. Enfim, o Rota 30 ainda é um projeto de transição para em um breve futuro termos mais carros elétricos no país”, diz.
O que é possível afirmar de momento é que o mercado está em expansão e não tem mais volta. Prova disso, é um recente levantamento feito pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), especializada em pesquisas no setor energético. O estudo publicado mostra uma previsão de que em 2040, 35% das novas vendas no mundo serão de carros elétricos. E o Brasil está nesta fatia de mercado.