Durante a palestra magna que abriu o 5º Encontro Sul Brasileiro de Engenharia Ambiental e Sanitária (ESBEA), o engenheiro ambiental Thiago Edwiges — doutor em Saneamento Ambiental e pós-doutor com passagens pela Griffith University (Austrália) e UFPR — destacou o papel central da engenharia ambiental e sanitária na construção de um modelo de desenvolvimento mais equilibrado. “O engenheiro ambiental não é mais apenas o profissional do controle da poluição ou do saneamento. Hoje, assume o papel de articulador de soluções sustentáveis, capaz de integrar processos produtivos à lógica da economia circular e das energias renováveis”, afirmou.
Thiago destacou que o mundo vive uma transição sem precedentes e que a busca por fontes de energia limpas e sustentáveis já não é mais uma escolha, é uma exigência global. Nesse contexto, a bioeconomia circular surge como uma alternativa poderosa. “Ela vai além da reciclagem. É sobre pensar desde o início em produtos com menor impacto, transformar resíduos em insumos, em biocombustíveis, em energia. E essa transformação passa diretamente pelas mãos dos engenheiros ambientais”, reforçou.
Ao abordar o cenário brasileiro, o especialista destacou o protagonismo do país na geração de energia renovável. “O Brasil está entre os três maiores produtores de energia limpa do mundo. Quando se trata de bioenergia, somos o segundo. Isso mostra o nosso potencial — e a responsabilidade que temos”, disse, citando como exemplos de cases a bioeletricidade que gera valor com resíduos como o bagaço da cana, o licor preto da indústria de papel e celulose.
Os impactos das mudanças climáticas também foram pauta na palestra. Segundo ele, eventos extremos como as chuvas no Sul e a seca na Amazônia mostram que a escolha das matrizes energéticas tem efeitos diretos na vida das pessoas e na economia. “Cada vez que escolhemos como vamos produzir energia, estamos decidindo também qual será o impacto social e ambiental dessa decisão. O modelo minerador, de extrair, transformar, consumir e descartar, está com os dias contados”, alertou.
Em sua fala, ele abordou ainda o Planares (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), que estabelece metas ousadas até 2040, como recuperar 48% dos resíduos e garantir que 100% tenham alguma forma de valorização. “Hoje esse índice é próximo de zero. A meta é ambiciosa, mas necessária. Precisamos investir em compostagem, biodigestão, tratamento mecânico-biológico. Isso é economia circular na prática”, explicou.
O engenheiro também apontou os combustíveis gasosos como tendência global. “O futuro energético será baseado em gases. Hoje, o metano já é uma realidade. Amanhã, será o hidrogênio. O Brasil aprovou recentemente a lei dos combustíveis do futuro, o que abre uma nova frente de oportunidades para nossa engenharia”, afirmou. Segundo ele, empresas e países estão assumindo compromissos de neutralização de carbono, e a substituição de combustíveis fósseis por gases renováveis será uma das principais estratégias.
Finalizando sua exposição, Thiago destacou a evolução das usinas de biogás no Brasil, que saltaram de 179 em 2015 para mais de 1.600 em 2024. “Essa revolução só foi possível graças ao avanço da tecnologia e, principalmente, ao conhecimento gerado dentro das universidades. Hoje, aproveitamos desde resíduos agrícolas até dejetos de peixe e açaí. É um campo em expansão e com imenso potencial para transformar o país”, concluiu.