A primeira edição do Boa Noite RH de 2025 reuniu profissionais e especialistas em gestão de pessoas para uma noite de reflexões práticas e inspiradoras sobre o papel da liderança no cotidiano das organizações. Promovido pela ABRH-PR, o encontro aconteceu na noite de terça-feira (29), no auditório da Associação Comercial do Paraná, em Curitiba.
Com mediação da vice-presidente da ABRH-PR, Vera Mattos, o painel contou com a participação de três diretoras de empresas com ampla experiência em liderança e desenvolvimento humano: Samira Porto Moro, executiva e facilitadora em processos de expansão da consciência; Renata Reissmann, psicóloga especializada em Coaching Executivo Empresarial e Mentoring; e Isabela Martins Sena, psicóloga e administradora com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas.
A abertura do evento ficou a cargo do presidente da ABRH-PR, Gilmar de Andrade, que agradeceu aos conselheiros, diretores e voluntários da entidade. “Falar de liderança no dia a dia é ainda mais enriquecedor quando temos convidadas como as de hoje. É uma oportunidade para gerar novas ideias, conexões valiosas e uma motivação renovada para exercer uma liderança mais consciente e transformadora nas organizações”, declarou.
Motor da liderança
Instigadas pela pergunta sobre como motivar equipes diante dos desafios diários, as painelistas trouxeram visões complementares. Para Isabela, a chave está na conexão com o propósito da empresa, com o trabalho, com a equipe e, sobretudo, com a liderança. “As pessoas se inspiram quando percebem autenticidade. Liderar é estar disposto a construir junto, oferecendo autonomia com cuidado genuíno. Conexão também é interesse verdadeiro no desenvolvimento das pessoas. É fazer com que alguém entre na empresa e saia melhor do que chegou”, afirmou.
Renata destacou que a motivação nasce quando há alinhamento entre os interesses do colaborador e as necessidades da empresa. “Não é preciso que exista conflito entre esses dois lados. Pode ser um encontro. Esse alinhamento fortalece o elo entre inspiração e ação, promovendo mudanças mais consistentes. Vivemos em constante evolução. Por isso, o líder precisa estar atento às transformações que impactam a coletividade e ser capaz de refletir, repensar decisões e se adaptar. A melhor decisão de hoje talvez precise ser revista amanhã, com base em novos contextos”, explicou.
Samira destacou “os diálogos com reflexões sobre a expansão da consciência e o papel do líder como facilitador do crescimento coletivo”. Reforçou que “o líder precisa estar presente, consciente de seu impacto e disposto a evoluir com sua equipe”.
Mudança com leveza
A importância de uma abordagem mais humana e empática, tanto para lidar com as mudanças quanto para exercer a liderança, também foi tema de reflexão. Isabela afirmou que “olhamos para a gestão da mudança como algo sofrido, que exige resiliência extrema, como se fosse um processo doloroso por natureza. Mas é preciso trazer leveza a esse tema. A mudança deve ser encarada como algo natural. A única certeza que temos é que a mudança vai acontecer. Não sabemos quando, nem se será para melhor ou pior, mas ela virá. Estamos em transformação o tempo todo”.
Samira, por sua vez, trouxe à conversa a referência da curitibana Juliana Bley, consultora em saúde e segurança organizacional. “Ela escreveu o livro Gestão da Travessia e também ministra um curso com esse nome. É uma abordagem sensível e prática sobre como conduzir mudanças com empatia e consciência”, comentou.
Vera completou a reflexão destacando a importância de observar também as pequenas mudanças do cotidiano. “Elas acontecem sem que a gente perceba. Essa leveza que a Isa trouxe amplia nosso olhar para o fato de que a mudança é inevitável e necessária. Nem sempre ocorre na velocidade que desejamos, mas aceitar isso facilita o processo, inclusive nas organizações.”
Engajamento
Em sua fala, Samira defendeu que o termo “retenção” seja substituído por “nutrição de talentos”. “Reter parece prender. O que engaja é ajudar as pessoas a se conhecerem, traçarem suas trilhas e encontrarem propósito. Liderar hoje é se reinventar com empatia e humanidade.” Segundo ela, o bom líder é, antes de tudo, um bom ser humano. “Sempre digo que um dia serei processada por sugerir tanta terapia, mas acredito profundamente nisso: quem se conhece consegue olhar melhor para o outro — e isso transforma ambientes.”
Renata complementou, afirmando que a mudança começa no indivíduo. “Se o líder não escuta o que o colaborador sente, como vai gerar impacto real? A empresa é feita de pessoas. Quando alguém está insatisfeito, geralmente é por causa de uma relação — e quase sempre, com o líder.” Disse ainda que o líder precisa estar disposto a ouvir quando escorrega, quando alguém da equipe diz: ‘Acho que aquilo não foi legal’. “Isso enriquece a liderança e promove evolução em conjunto.”
Isabela pontuou que está tudo bem perder um talento para o mercado. “O pior é perder e a pessoa continuar ali, desengajada, esperando o relógio bater seis horas para ir embora. Melhor que alguém saia reconhecendo que cresceu e que a empresa contribuiu para sua trajetória. O papel da liderança e do RH é engajar enquanto estiver junto. É isso que faz sentido hoje.”
Autoridade e empatia
Quanto ao desafio de equilibrar autoridade e empatia na liderança, Renata destacou que os dois conceitos precisam caminhar juntos, mas com significados atualizados. “Autoridade pressupõe responsabilidade. Quem exerce liderança precisa tomar decisões e orientar caminhos com consciência, propósito e intenção.” Ela pontuou que empatia hoje não se resume mais a se colocar no lugar do outro, mas em tentar compreender como o outro pensa, sente e decide. “Quando há clareza, a equipe entende: talvez não concorde com tudo, mas compreende e apoia a decisão.” E alertou que autoridade não deve ser confundida com autoritarismo. “O que funciona é a construção conjunta, com escuta ativa e decisões compartilhadas.”
Para Isabela, não basta “comprar” a ideia do líder. “É necessário entender o porquê de cada decisão. Clareza, transparência e contexto são fundamentais. A liderança precisa conectar as pessoas ao propósito. É aí que nascem as possibilidades de co-construção.” Em sua visão, autoridade hoje tem menos a ver com cargo e mais com a capacidade de dialogar, engajar e criar conexões significativas. “O líder também é constantemente provocado pela equipe a se desenvolver, o que impulsiona uma evolução orgânica das empresas.”
Samira trouxe uma reflexão sobre a quebra de paradigmas: “Você é, sim, autoridade em algo. Mas ainda carregamos modelos mentais da Revolução Industrial, com estruturas rígidas, que não cabem mais na realidade atual. Autoridade se constrói com conhecimento técnico, experiência, relação e confiança.” Para ela, liderar hoje é mais sobre saber ouvir, aprender e se conectar do que simplesmente mandar.
Liderança e mudança
Quanto ao papel da liderança nos processos de mudança organizacional, Renata defendeu uma abordagem mais leve sobre o tema. “Não gosto muito do termo ‘gestão da mudança’. Prefiro falar em fluidez, algo prazeroso e gostoso, e em cultivar a curiosidade. O RH deve fomentar essa curiosidade e estimular a experimentação de novas ideias sem recorrer ao medo como estratégia de convencimento”, frisou.
Isabela destacou que um dos maiores desafios é lidar com a diversidade de perfis dentro da mesma organização. “Cada grupo precisa ser tratado de maneira diferente. A comunicação traz clareza, mas o ponto central é mapear os diferentes perfis e adaptar as abordagens conforme a maturidade da organização. Não existe fórmula pronta: é preciso fazer diagnósticos cuidadosos e contar com aliados internos para ampliar o engajamento.”
Já Samira lembrou que o RH também atua como coach de outras lideranças, muitas vezes ajudando profissionais a se enxergarem e a lidarem com suas próprias resistências. “Esse olhar humano quebra barreiras antes mesmo de qualquer projeto. E tem algo importante: o bom humor. A leveza e a empatia fazem toda a diferença em tempos de mudança.”
Maturidade emocional
As painelistas destacaram que, sem maturidade emocional, não há construção de vínculos mais saudáveis dentro das empresas. Para Renata, a maturidade emocional é a base de qualquer relação profissional saudável. “Quando conseguimos distinguir o que é nosso e o que é do outro, ganhamos clareza para lidar com os desafios. É comum reagirmos a estímulos externos que, na verdade, tocam questões internas. Liderar exige discernimento e escolhas conscientes.”
Isabela reforçou a importância de elevar a régua da maturidade dentro das empresas. “Muitas vezes deixamos de compartilhar informações estratégicas com a justificativa de que ‘as pessoas não têm maturidade para lidar com isso’. É preciso confiar nas equipes e promover um ambiente responsável. Quem ainda não alcançou esse nível, precisa buscá-lo. Comunicação madura exige maturidade emocional.”
Samira apontou que amadurecimento emocional exige confiança — e que, sem confiança, não há humanidade nas relações. “Às vezes mudamos o nome das coisas, mas não o conteúdo. Tudo evolui: pessoas, aprendizados, formatos de aprendizagem. Por que insistir nos mesmos modelos? Precisamos ter paciência e nos preparar para recomeços. A maturidade está também em entender isso”, destacou.
Responsabilidade do líder
Quanto ao papel do líder no desenvolvimento de pessoas, Isabela afirmou que liderar exige responsabilidade com o ser humano. “É preciso gostar de gente de verdade. O RH pode criar trilhas, mas tudo começa com cuidado genuíno com as pessoas.” Completou com um alerta sobre algo que está se perdendo nas empresas: a escuta. “Precisamos ouvir o time. É papel do líder construir um estilo próprio com a equipe, reconhecendo que não ter todas as respostas também é um ato de maturidade”, afirmou.
Renata compartilhou sua própria trajetória: “Demorei para querer liderar, porque gostava de fazer as coisas eu mesma. Doía abrir mão. Liderança exige isso: permitir que o outro faça, tome decisões por você. Pergunto sempre: ‘Você está pronto para isso?’”.
Chaves para o futuro
Nos momentos finais do encontro, Samira destacou a importância da inovação e da colaboração no contexto atual. “Inovar vai além das grandes disrupções — está também em melhorar processos cotidianos. O líder inovador precisa escutar, confiar e ter paciência com o tempo da construção coletiva. A diversidade pode levar a soluções que sozinhos jamais imaginaríamos”, afirmou. “A colaboração é a chave para transformar ambientes. Não adianta um ambiente propício se a colaboração não for incentivada. As pessoas não querem mais apenas obedecer — querem criar e cocriar.”
Renata acrescentou que liderar dá trabalho. “Você sai da zona de conforto do que fazia bem para confiar que outra pessoa fará e, muitas vezes, até melhor. Isso exige observação, paciência e disposição para montar equipes diversas. O erro comum é contratar pessoas parecidas conosco, o que reduz criatividade. A diversidade fortalece o time.”
“A confiança caminha lado a lado com a segurança psicológica”, pontuou Isabela. Segundo ela, o time precisa se sentir seguro para propor o novo, errar, tentar de novo. “Já vivi situações em que aceitei uma ideia que não parecia a mais segura — e deu certo. Isso só é possível em ambientes onde o ego é deixado de lado e há espaço para o diferente. Garantir segurança psicológica é a base para que uma equipe confiante, criativa e cocriadora floresça de fato”, ressaltou.